
Não procuraremos nesta oportunidade discorrer sobre os vários preceitos e postulados do Espiritismo, pois existe abundante material versando sobre o tema. Aqui interessando-nos mais as relações entre a Apometria e o Espiritismo e como estas duas correntes podem caminhar juntas.
A Apometria é muito mais uma metodologia de trabalho ou um conjunto de princípios voltados para técnicas do que propriamente uma doutrina codificada. O Espiritismo possui um aspecto teórico e outro prático, ambos equilibrando-se e complementando-se. A Apometria é um saber extremamente prático que possui abertura para a construção do teórico a partir das experiências que vão sendo realizadas com suas técnicas. Isso não significa que a Apometria não tenha sua própria base, porém, ela bebe de várias fontes e se configura como um sistema aberto que procura manter sua coesão a partir da experimentação de suas técnicas. O Espiritismo é uma doutrina que procura uma interpretação mais profunda do cristianismo, indo mais diretamente a fonte dos ensinamentos do Cristo. A Apometria, embora seja cristã, não se foca apenas nos ensinamentos de Jesus, mas de todos os grandes Mestres do passado e do presente que inspiraram a criação das diversas religiões e correntes de pensamento.
Espiritismo é basicamente mediúnico. O componente anímico é praticamente repudiado nos meios espíritas. Acredita-se que o animismo é uma interferência da subjetividade do médium dentro do processo de conexão espiritual. Apometria procura mesclar a mediunidade com o animismo, criando uma terapêutica medianímica. O anímico e o mediúnico são duas faces de um mesmo processo de contato com níveis mais elevados. A Apometria não usa propriamente a mediunidade, mas também não a dispensa caso ela se apresente. Porém, a tendência dentro dos trabalhos apométricos é a utilização mais generalizada da vidência, no sentido da “visualização” dos planos sutis para a atuação através de energias e técnicas de depuração e harmonização dos níveis de consciência. Já o Espiritismo se concentra mais no componente mediúnico no sentido da incorporação da entidade para diálogo e encaminhamento.
O Espiritismo descreve o desdobramento espiritual, mas não aprofunda em sua utilização prática. A Apometria fundamenta uma boa parcela de suas pesquisas no manejo do desdobramento, suas propriedades e aplicações. Porém, o sentido que se dá ao desdobramento no Espiritismo é apenas a saída consciente ou inconsciente do perispírito durante o estado onírico. Na Apometria o desdobramento não se restringe apenas ao perispírito e ao corpo astral, mas aos múltiplos níveis e subníveis, além de desdobrar personalidades de vidas passadas e subpersonalidades. Tanto o Espiritismo quanto a Apometria realizam a desobsessão, porém na Apometria a desobsessão é encarada de forma mais ampla. Existe na Apometria o conceito de desobsessão complexa, que aborda elementos que não se limitam apenas à atuação de um espírito sobre o outro. (acrescentar o capitulo que a desobsessão complexa será abordada). Assim, a Apometria utiliza o desdobramento de forma a atuar no plano espiritual de forma mais simples e direta. O Espiritismo, apesar de abordar o tema, não apresenta os meios e as aplicações para a efetivação desse tipo de trabalho.
O Espiritismo não considera a realidade da magia. A Apometria não apenas aborda o tema como ensina uma multiplicidade de técnicas que podem ser aplicadas para a neutralização dos trabalhos e tratamento de espíritos ou elementais envolvidos na construção e conservação da magia. Há múltiplas e variadas formas de magia, muitas delas desconhecidas do público, porém mesmo sendo ocultas são muito poderosas e podem causar grandes estragos quando encontram terreno fértil dentro do psiquismo das pessoas.
Tal como o Espiritismo, a Apometria possui uma obra que define sua fundamentação, seus princípios, sua técnica e metodologia. Este é o “Espírito e Matéria” de José Lacerda. Porém, ao contrário de boa parte do movimento espírita, os apômetras não consideram este livro como a única fonte possível de onde emana todo o saber apométrico.
Dr. José Lacerda denomina-se espírita, embora não seguisse a risca todos os ensinamentos do Espiritismo. Dr Lacerda acreditava que o Espiritismo, mais do que uma religião ou uma filosofia, é uma realidade cósmica, transcendente, base e fundamento da cadeia de funcionamento dos mundos, planos, formas e vidas. O próprio Allan Kardec definiu o Espiritismo como tendo um aspecto religioso, filosófico e científico. Se o Espiritismo não está em nenhum destes três aspectos em separado, mas em uma tríade de amplitude irredutível aos seus revestimentos exteriores, então podemos considerar que o Dr. Lacerda estava correto ao validar o Espiritismo como um conjunto de leis e princípios que formam uma essencial unidade do real. Porém, apesar de ter o Espiritismo na mais alta conta, Dr. Lacerda faz duras críticas aos espíritas ortodoxos e conservadores, que pretendem ser o Espiritismo uma doutrina fechada que não admite revisões e avanços. Sendo o Espiritismo uma doutrina codificada por uma inteligência humana, que tem suas fraquezas e limitações, não pode ser completo e perfeito. A perfeição está no centro do ser dos espíritos superiores, mas no momento da propagação da projeção do seu pensamento elevado a planos inferiores, sua essência vai se perdendo e sendo distorcida, tendo de revestir formas adaptáveis ao plano de consciência em que nos encontramos.
O Espiritismo foi codificado dentro de uma metodologia mediúnica, de contato direto e objetivo com o plano espiritual. O que aconteceria se mais pesquisadores utilizassem essas mesmas investigações com base mediúnica ou anímica para esclarecer a humanidade aprofundando em velhas perguntas e formulando novos questionamentos sobre temas emergentes da atualidade? Certamente teríamos respostas mais aprofundadas e outras que poderiam escapar da origem da doutrina espírita, pois o entendimento do ser humano no grau de consciência em que se encontra no presente abarca uma série de campos de conhecimento e compreensão que não existiam no século XIX. Nesse sentido, o Espiritismo deve deixar de lado seu rótulo doutrinário fechado e passar a ser uma metodologia investigativa dinâmica e pluralista.
Estes são dois processos distintos. Há uma fase em que devemos investigar, perseguir, procurar, questionar, etc e quando atingimos uma certa estabilidade explicativa em relação ao conhecimento antigo (respondendo questões que antes não eram explicadas) , devemos passar novamente a fase da investigação de novas questões emergentes. Esse é um desenrolar cíclico e alternante de como podemos nos relacionar com o conhecimento sem cair em ortodoxias. O erro dos espíritas ortodoxos seria estacionar na estabilização do conhecimento, aceitando como verdade apenas aquilo que está codificado, esquecendo-se da necessidade de ir além, ultrapassar as barreiras do conhecido e resolver as novas problemáticas emergentes. Por outro lado, o erro dos liberais seria cair num excesso de investigações “atirando para todos os lados”, aceitando tudo o que se apresenta como novidade e incorporando qualquer idéia dentro de qualquer contexto – a novidade pela novidade.
É curioso observar como alguns espíritas acreditam firmemente que o Espiritismo seja completo, pronto e acabado. Se pensarmos por um momento nessa possibilidade, devemos concluir que nós, seres humanos, que podemos de imediato vir a conhecer uma doutrina completa, sejamos igualmente completos em nosso conhecimento da verdade. Nesse sentido, qualquer pessoa poderia se tornar um sábio ou um ser evoluído apenas pelo fato de ter lido as obras básicas espíritas e conhecer toda a codificação kardequiana. Ora, um conhecimento perfeito só pode ser assimilado e apreendido por um ser perfeito. De igual maneira, um conhecimento limitado se ajusta a consciência de um ser ainda limitado. Dessa forma, o Espiritismo enquanto codificação doutrinária, é sem dúvida incompleto e possui inúmeras lacunas e se não fosse assim, poderia ele sozinho resolver todos os problemas humanos de uma só vez, pois sua perfeição se expandiria imediatamente iluminando toda a imperfeição do mundo fenomenal. Porém, estamos ainda muito longe de poder conhecer a Verdade em forma de revelação. A Verdade nem poderia manifestar-se como uma doutrina, pois nada que é exterior e intelectual pode ser considerado uma realidade. Toda doutrina ou sistema deve ser encarado como uma ferramenta que deve ser utilizado para se passar por um estágio e galgar a um nível mais elevado. Se a ferramenta fosse perfeita, só um ser perfeito poderia saber manuseá-la. Nesse sentido, tanto o Espiritismo quanto outras correntes devem ser vistos como um instrumento de que nos serviremos para avançar um pouco mais. Assim como os seres, o conhecimento também se manifesta através de corpos, e como sabemos, os corpos, os revestimentos externos que revelam uma natureza interna são perecíveis e serão a curto ou médio prazo substituídos por outros mais aptos a realização de uma função superior.
Apesar de tudo isso, talvez a intenção dos espíritas mais conservadores seja não permitir que o Espiritismo seja engolido pelas novidades espiritualistas que aparecem com a rapidez do pensamento e da criatividade de certos autores oportunistas. Muitos aproveitadores de plantão se apropriam de uma base esotérica ou espiritualista já existente e dão um revestimento levemente diferente e criam novidades, com novos nomes e formas. Práticas milenares em recipientes novos. A casca exterior difere da original, mas a essência do ensinamento é rigorosamente a mesma.
Muitas vezes, espíritas mais conservadores perdem um precioso tempo procurando fortificar as fronteiras do Espiritismo em relação ao que há de exterior a ele ao invés de se concentrar naquilo que tem valor: a essência dos princípios ensinados na codificação, que nem sequer podemos considerar como princípios espíritas, diante do grande número de correntes de pensamento que as ensinam de uma forma ou de outra.
Apesar deste processo, existem conhecimentos mais profundos que se assemelham ao Espiritismo e encontram paralelo com algumas idéias espíritas, tornando as similaridades impossíveis de não serem notadas. Temos como exemplo a Transcomunicação Instrumental, a Projeciologia, o pensamento universalista de Ramatis, a Regressão a Vidas Passadas, algumas terapias holísticas com o Reiki que se assemelha ao passe magnético, acupuntura, florais, cromoterapia, terapia com cristais, trabalhos de anti-goécia, a Ufologia mais espiritual, a Umbanda, a própria Apometria, as experiências de quase morte, o processo de canalização, etc. Todos estes conhecimentos e práticas estão acessíveis nos dias de hoje e vem trazer uma nova visão sobre princípios e idéias que o Espiritismo ensina desde sua codificação. Tudo isso aponta para uma aproximação do Espiritismo com outras áreas do saber humano e espiritual, das quais os espíritas não podem mais ignorar. Obviamente é importante não deixar que o Espiritismo se dissolva dentro desse quadro maior, mas jamais devemos esquecer que a base do Espiritismo são seus princípios e não a forma como estes são apresentados. Todo espírita ou espiritualista deve se debruçar sobre essa máxima: “A letra mata, o espírito vivifica”. Se os mesmos princípios e leis que o Espiritismo transmite a humanidade forem apresentados com uma nova roupagem, porém conservando sua verdade, qual a diferença de nomea-los como Espiritismo, Umbanda, Teosofia, Cabala, Gnose, Hermetismo, Alquimia, Druidismo, etc?
Quanto mais estudamos e praticamos o desdobramento consciente, a vidência, a mediunidade, a psicografia, clariaudiência, etc, mais descobrimos que podemos a qualquer momento estabelecer esse contato com o plano espiritual de forma simples e eficiente. A Apometria vem demonstrar o quanto podemos desbravar terrenos ainda desconhecidos na prática em vez de permanecermos lendo durante anos livros antigos em bibliotecas empoeiradas. Questionemos aos próprios espíritas se preferem conhecer fatos e energias diretamente percebendo o plano espiritual ou se preferem apenas acreditar na visão psíquica que outros realizaram e vejamos a resposta que eles darão. Tudo no Universo aproxima e inspira o contato cada vez mais estreito com uma realidade superior. As religiões do mundo estão cada vez mais cedendo lugar a escolas de pensamento que propõem um acesso mais nuclear a realidade do espírito. As pessoas não desejam mais crer apenas - elas buscam vivenciar, descobrir por si mesmas, ver a realidade com seus próprios olhos interiores.
Esse contato indireto com o plano espiritual algumas vezes acarreta uma perigosa dependência dos mentores espirituais e da equipe invisível. Muitos espíritas acreditam que é muito mais seguro delegar a responsabilidade para os espíritos de luz do que realizar o trabalho. Toda dependência é problemática, não importa a que ela se refira. Mesmo a confiança absoluta em espíritos superiores pode indicar uma falta de confiança no trabalho que se realiza no centro. Confiança extrema no outro pode sinalizar uma falta de confiança em si mesmo. Devemos sempre lembrar que estamos num caminho evolutivo e tudo que os mentores atingiram em grau de evolução espiritual nós também podemos e devemos alcançar. Tudo o que praticamos nos centros espíritas deve servir para nosso adiantamento e não apenas para curas e tratamentos de doenças que se originam na distância que nos encontramos de planos mais elevados. A evolução espiritual através da reforma íntima é o mais nobre forma de empregar nosso tempo e a nossa energia.
Um discípulo desejoso de alcançar estágios mais elevados deve saber o que está diante de si e as implicações de sua escolha. No momento em que decidir praticar o despertar de sua consciência, automaticamente precipitará a manifestação de tudo àquilo que impede sua ascensão. Suas paixões, imperfeições, limites e apegos apresentar-se-ão com bastante força e intensidade. A explicação desse fenômeno está em fazer vir à tona tudo aquilo que nos prende a Terra para a identificação de nossas fraquezas, pois só pelo conhecimento de nossos limites é que se torna possível supera-los e dar o passo seguinte. Os discípulos de escolas esotéricas e Ordens Iniciáticas conhecem esse antigo princípio e entram na senda preparados para o desafio. No momento da iniciação, eles devem enfrentar seus maiores medos; devem deparar-se com sua sombra, seu lado obscuro – tudo o que sempre desejaram ocultar de si mesmos. Essa provação iniciática corresponde aos três desafios que Jesus teve que enfrentar no deserto. Buddha também teve que atravessar essas três provas como preparação para sua iluminação. O iniciado deve vencer a dúvida, o apego e o medo. A vida também é iniciática por natureza e a iniciação nas escolas de mistério procura reproduzir os princípios que a própria vida nos faz atravessar.
Se você escolheu realizar a reforma íntima e não está encarando sua sombra, você não está fazendo a reforma íntima. Muitos meditadores interrompem suas práticas sob a alegação de que estão piorando ao invés de melhorar – eles estariam sentindo-se mais melancólicos, com um vazio e sentimentos de desespero e desinteresse pela vida. Não sabem que todas essas energias que agora se fazem presentes à consciência já estavam em seu agregado espiritual, aguardando o momento de aparecer. A decisão em evoluir apenas fez conhecer aquilo que já estava latente e uma hora ou outra a vida nos faria ver e sentir. Tudo esse processo é extremamente positivo, pois acelera nosso adiantamento e nos coloca mais próximos da corrente infinita da existência.
(Hugo Lapa, terapeuta de vidas passadas e apômetra)
tel 3097 8079
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